Aos queridos irmãos e irmãs da Família Dominicana do Brasil: Como irmãos e irmãs de caminhada pela construção da Justiça e Paz, nós, as 66 pessoas participantes deste Encontro, vindos dos Estados do Maranhão, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Tocantins, Pará, Minas Gerais, São Paulo, Paraná e Goiás…
Nos reunimos em Goiânia nos dias 5 e 6 de outubro para refletirmos sobre nosso trabalho de base e a articulação das ações de Justiça e Paz.
Assessorados por Irmã Pompea Bernasconi, religiosa das Irmãs de Nossa Senhora Cônegas de Santo Agostinho, fomos convidados/as a abrir nossos ouvidos, nossos corações e todo nosso sentimento aos anseios e sofrimentos do povo. Mas, qual a melhor maneira de se ouvir com nitidez? A melhor forma de ouvir é estar bem próximo das pessoas, olho no olho, “sentindo o cheiro das ovelhas”, tocá-las.
Este foi o método de Jesus. Este deve ser o nosso. Como nos diz o Documento de Aparecida, é necessário “tempo aos pobres, prestar a eles amável atenção, escutá-los com interesse, acompanhá-los nos momentos difíceis, escolhê-los para compartilhar horas, semanas ou anos de nossa vida, e procurando, a partir deles, a transformação de sua situação” (nº 397).
Por isso fizemos, em forma de mutirão, uma análise da conjuntura atual para sentir o que o mundo, o país, a cidade, a comunidade estão dizendo? “Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!”
Foi dada ênfase às manifestações que tomaram as ruas, neste ano.
Em tempos de crise de trabalho de base e dificuldades mil em mobilizar o povo, como explicar essa “explosão de manifestações”? As explicações foram inúmeras e diversas. Mas, o fato delas terem partido de necessidades concretas (o transporte coletivo, e outras), sem iniciativa específica nem de Partidos Políticos, nem de Igrejas (diferente do que acontecia nos anos 70 e 80), elas têm muito a nos dizer. É necessário ouvi-las com atenção!
Pelos lados eclesiais, surpreendentemente, há esperanças que vêm de Roma, mas com muitos retrocessos nas Igrejas Locais. Frei Humberto, vindo em cadeira de rodas, nos visitou e fez questão de nos lembrar: “Vocês são profetas de Deus, profetas da vida”: como fazer que nossas instituições eclesiais recuperem a profecia, carregando a bandeira dos anseios que vem dos gritos das ruas?
Desse nosso Encontro brotaram desafios e orientações significativas, sintetizados nos 9 itens abaixo:
1. Precisamos encontrar a porta de entrada para nosso trabalho, diminuir a distância física da base. Conhecer as necessidades sentidas pelo povo. Nem sempre o que eu/nós penso/pensamos é o que povo quer; ouvir seus sonhos, desejos, esperanças, lutas, conquistas. A partir daí, conhecer suas potencialidades, despertar para a defesa e a promoção de sua dignidade e anunciar outro mundo possível, viver a solidariedade.
2. Fomos provocados/as a nos deter na questão da mulher, que é a verdadeira protagonista no trabalho de base, mas ao mesmo tempo discriminada na sociedade e na nossa Igreja. Se na sociedade, ela vai encontrando seu espaço, mesmo que isso não atinja todas as classes, alcançando o cargo máximo na República, por que em nossa Igreja continua tão fora das instâncias de decisão (as mulheres fortes na base e fracas na hierarquia)?
3. Não existe trabalho de base à distância, nem por telefone ou internet, nem só nos finais de semana;
4. Fazer com o povo, e não para o povo ou pelo povo;
5. Formar lideranças (que pensem na comunidade) e não líderes individuais (que querem se projetar);
6. Lutar para conseguir um objetivo de cada vez e ir celebrando as pequenas vitórias;
7. Descobrir novas praças, novas bases, para construir, a partir das ações de Justiça e Paz na ótica dos Direitos Humanos, o outro mundo que sonhamos, e que é possível e urgente.
8. Recuperar o Jesus histórico, como condição fundamental para o trabalho de base.
9. Celebrar o Jubileu dos 25 anos de nossa caminhada, garantindo a memória crítica-propositiva.
Agradecidos pela riqueza do Encontro, iniciamos o processo de preparação para o próximo. Cientes de que o próximo ano (2014) será marcado por comemorações importantes para toda nossa Família Dominicana: 25 anos desta Comissão de Justiça e Paz, 40 anos do martírio de Frei Tito, 500 anos da conversão de Bartolomeu de Las Casas.
A caminho da celebração de 800 anos de caminhada dominicana, convidamos toda a Família Dominicana do Brasil, as pessoas, Comunidades, Movimentos Sociais Populares e outras entidades parceiras a participarem de nosso 25° Encontro (Jubileu de Prata da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil) nos dias 21 e 22 de novembro de 2014, com a participação especial de Frei Timothy Radcliffe, ex Mestre da Ordem Dominicana. A nossa Assembleia para avaliação do atual triênio e planejamento do triênio 2015/2017 acontecerá no dia 23 de novembro de 2014.
Esses dois importantes acontecimentos estão previstos para Goiânia, no Instituto São Francisco e nas dependências da Igreja São Judas Tadeu.
Goiânia, 06 de outubro de 2013.
Abraços fraternos e sororais,
As/os participantes do 24º Encontro da Comissão Dominicana de Justiça e Paz do Brasil